Covid19 em crianças

Alguns apontamentos práticos sobre o Covid19 em crianças

O vírus SARS-CoV-2, um coronavírus que recentemente surgiu na comunidade, é responsável pelo desenvolvimento de uma doença que se denominou de covid19. Os primeiros casos da doença terão ocorrido em finais de 2019, mas em 2020 tornou-se uma pandemia mundial.

Sendo uma doença de aparecimento recente, são ainda poucos os dados científicos que se conhecem, pelo que os apontamentos que aqui se expressam refletem apenas o que a literatura científica e as autoridades de saúde vão disponibilizando.

O aparecimento de novas variantes do vírus torna a informação ainda mais volátil.

Os dados da Organização Mundial da Saúde mostram que os casos de Covid19 em crianças registados entre janeiro e julho de 2020, tinha a seguinte distribuição: 1,2% em crianças entre os 0 e os 4 anos, 2,5% em crianças entre os 5 e os 14 anos e 9,6% em adolescentes e jovens entre os 15 e os 24 anos.

As crianças são mais imunes ao Covid19 do que os adultos?

Para além desta baixa incidência, também se tem verificado que as crianças não transmitem tanto a doença (ao contrário do que se observa na gripe), nem se infetam na mesma proporção do que os adultos e o desenvolvimento de doença grave é muito raro neste grupo etário. Ao contrário, nas escolas, a incidência é maior entre o pessoal docente e não docente.

Embora se desconheça ainda muito sobre este assunto, são várias as explicações sugeridas para o facto de a covid19 afetar menos as crianças do que os adultos.

Em artigo publicado recentemente na revista Nature, apontam-se as características do sistema imunitário dos mais jovens como uma das razões, sugerindo-se que o sistema imunitário das crianças estará mais bem preparado para eliminar o vírus SARS-CoV-2 do que o dos adultos, pois consegue desencadear uma resposta rápida e eficaz, o que inativa o vírus ainda antes de este se replicar. Sabe-se que uma partícula de SARS-CoV2 pode fazer 100 mil cópias de si própria em 24 horas.

O acompanhamento, ao longo um mês, de crianças que estiveram em contato com adultos infetados e que só desenvolveram sintomas ligeiros da doença, mostrou um resultado negativo nos testes PCR, que se sabe serem muito sensíveis à presença destes vírus no organismo. A idade condicionaria, assim, a resposta imunitária, o que explicaria a maior transmissibilidade e a maior gravidade doença na população mais idosa.

Se infetadas, a maioria das crianças jovens apresentam sintomas ligeiros ou nenhuns.

É também possível que o sistema imunitário inato (aquele que a criança já tem ao nascer) seja mais eficaz para este coronavírus do que a imunidade que vai sendo desenvolvida pelo organismo, à medida que contacta com novos agentes patogénicos, que estão na origem de diversas doenças.

Também o facto de as crianças terem muito contacto com os coronavírus sazonais (como, entre outros, os que causam constipações) e sabendo-se que os anticorpos para esses agentes são capazes de conferir também alguma proteção, é possível que isto possa ajudar a uma melhor resposta imunitária.

Tem sido também sugerido o facto de os recetores ACE2, usados pelo SARS-CoV-2 para se ligarem às células humanas (e que estão presentes nas células do nariz), aumentarem à medida que a idade avança. O que protegeria os mais novos, mas facilitaria a entrada do vírus no organismo dos mais velhos.

Tudo isto está de acordo com o que se vem constatando entre nós e noutros países:

  1. As infeções e os surtos são pouco frequentes nos estabelecimentos de ensino.
  2. Existe uma forte associação entre o aparecimento de surtos nas escolas e o nível de transmissão do vírus na comunidade em que a escola se insere.

E as vacinas Covid19?

Ainda assim, é a imunidade adquirida que pode determinar o fim desta pandemia, com as vacinas mais avançadas neste momento a incidirem precisamente na capacidade de o organismo humano reconhecer a proteína spike deste vírus e gerar a resposta imunológica adequada.

A vacinação é a única maneira de atingirmos uma imunidade de grupo e obtermos assim uma proteção eficaz contra este novo vírus.

Sintomas e diagnóstico Covid19 nas crianças

Quando infetados pela COVID-19, os mais pequenos têm tendência a apresentar sintomas mais ligeiros e um menor risco do que os adultos. Ainda assim, há precauções a tomar, sobretudo na proteção dos mais velhos, que podem ser contaminados por uma criança infetada, mas assintomática.

 Do ponto de vista clínico, a COVID-19, na grande maioria das crianças, pode não apresentar quaisquer sintomas ou dar sintomas ligeiros parecidos com uma constipação ou gripe.

As crianças podem ter febre, tosse e por vezes dificuldade em respirar. Em alguns casos queixam-se de cansaço, dores no corpo, dor de garganta e apresentam diarreia.

Atenção ao facto de a febre ser menos frequente nas crianças. Por outro lado, e ao contrário dos adultos, as crianças podem aparecer apenas com queixas gastrointestinais, como vómitos, náuseas e/ou diarreia e sem sintomas respiratórios, o que dificulta o diagnóstico.

Não há forma de distinguir, apenas pelos sintomas, uma gripe ou uma constipação da COVID-19, sobretudo em crianças. O diagnóstico confirmado de COVID faz-se usando o teste específico para esta doença e deve ser aplicado se se observarem sintomas respiratórios: febre ou tosse ou dificuldade respiratória e um contacto com caso confirmado.

Precauções e Recomendações Covid19

As crianças infetadas são, assim, um risco para as pessoas mais velhas, sobretudo os avós, já que não tendo sintomas ou tendo tosse ligeira, que na maior parte dos casos não é valorizada, podem transmitir a doença através das gotículas e das fezes, provocando doença grave nos idosos.

Recordamos, ainda, que crianças com sintomas respiratórios não devem dirigir-se à urgência se os sintomas forem ligeiros. Podemos controlar a doença em casa, isolados. Recorrer apenas à urgência, criteriosamente, se houver persistência de febre, prostração, gemido ou irritabilidade, recusa em alimentar, vómitos ou diarreia persistentes, manchas no corpo ou agravamento da dificuldade em respirar.

Aconselhar-se sempre com a Saúde 24.

Apesar da evolução benigna da maioria dos casos, a covid-19 pode ser um risco grande para as crianças que apresentam algumas doenças de base: doenças respiratórias graves, doenças cardíacas, insuficiência renal ou com algum tipo de perturbação ao nível do sistema imunitário.

Perante uma suspeição devem tomar-se imediatamente medidas de isolamento, até que se obtenham orientações dadas por um profissional de saúde.

As autoridades de saúde têm vindo a fazer algumas recomendações:

  1. O uso de máscaras de proteção é preconizado em todas as crianças acima dos 10 anos. Devem usar uma máscara, que cubra o nariz e a boca, quando estão na comunidade, devendo aquela ser “de pano e reutilizável ou cirúrgica, desde que esteja bem adaptada à cara da criança. Abaixo dos 2 anos de idade, as máscaras não devem ser usadas “devido ao risco de sufoco”. Crianças com dificuldades respiratórias, incapacitadas ou incapazes de remover a máscara sem ajuda também não a devem usar.
  2. Distanciamento social, especialmente de adultos que não pertençam ao seu agregado familiar.
  3. Higiene das mãos (lavagem após manipulação de brinquedos e outros objetos).
  4. Etiqueta respiratória (explicar à criança como executar).
  5. Sempre que possível, atividades e brincadeiras ao ar livre
Profº Drº Carlos Perdigão
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